E depois da morte?

Não é um grande filme, muito menos uma obra-prima, mas é um dos mais bizarros e peculiares em cartaz.
Refiro-me a "Odete", a segunda longa-metragem de João Pedro Rodrigues, cineasta que se confirma como um dos mais interessantes do cinema português recente.

Dificilmente será um filme que agrade a toda a gente, pois os limites entre o ridículo e o poético são bastante ténues em alguns momentos, mas é um poderoso retrato da solidão, de amores amargurados e da forma como se reage à morte de alguém muito próximo.

Ana Cristina de Oliveira e Nuno Gil, que interpretam os dois protagonistas, não são actores excepcionais mas conseguem desempenhos credíveis, e o argumento, banda-sonora e realização também convencem.

Na retina ficam algumas imagens marcantes e eventualmente controversas (pela crueza com que se filma o sexo, a obsessão ou o lado mais obscuro da noite lisboeta, em particular a da cultura gay) e uma melancolia que só alguns filmes são capazes de emanar.

É bom ver que entre propostas comerciais e banais como "O Crime do Padre Amaro" ou pretensiosas e balofas como "O Fatalista", de vez em quando também há boas surpresas nacionais como "Odete". Um filme recomendando, claro, mas é preciso estar disponível para o entender.